Roger Peres, 42, é uma daquelas pessoas aventureiras e superativas, que praticam esportes e estão sempre em companhia da família e amigos. Ele é também um viajante assumido que, sempre que possível investe um tempo para conhecer os lugares mais fascinantes do país e fora dele, quando tira alguns dias de folga de seu trabalho como Analista de Sistemas. Já conheceu Fernando de Noronha (Pernambuco), Socorro (no interior de São Paulo), entre outros destinos.

Por esse amor, Bonito foi uma de suas escolhas de viagem em 2017. E o resultado foi que ele se encantou! Vindo de Volta Redonda, no Rio de Janeiro, Roger conheceu, além do Abismo Anhumas, outros passeios como o Rio Sucuri, o Aquário de Bonito, a Nascente azul, andou de quadriciclo e também foi até o Pantanal.

Mas o que torna a sua experiência diferente da maioria das pessoas que estamos acostumados a receber é o fato de Roger ser paraplégico. E, por conta da imobilização de seus membros inferiores, ser cadeirante.

O Abismo Anhumas, em específico, tem toda a sua estrutura adaptada e é referência em acessibilidade. Os monitores também são capacitados para atender crianças, idosos, pessoas com mobilidade reduzida ou deficiência. Eles acompanham todo o processo da aventura, garantindo tranquilidade em todo o percurso e o suporte necessário. (Falamos em detalhes de nossa estrutura aqui).

E, por isso, entrevistamos Roger para saber como foi praticar o maior rapel de caverna do Brasil. Leia a seguir.

 

Como foi sua experiência no Abismo Anhumas?

A experiência foi ótima, gostei muito do profissionalismo, de como é tratada a coisa, dentro da loja (escritório) em Bonito. Lá foi muito legal e muito rápido. O Vadu (chefe dos monitores), é um cara fantástico, excepcional, bem-humorado e muito profissional. Bem treinado, fez a descida e a subida comigo.

O abismo foi uma das maiores experiências que tive! A única pena foi o tempo (das 9h às 17h) que fiquei na caverna. A promessa é que eu subiria às 14h, mas as pessoas que subiram antes de mim não conseguiam subir com a agilidade. Então eu fui quem desceu por último e subiu por último.

O meu instrutor de mergulho, cordialíssimo, me incentivou a mergulhar, me contou as histórias, mostrou os lugares lá dentro. Eu fiz só a flutuação, pois não tenho certificação pra mergulho.

Me senti seguro a todo momento, a equipe é muito engajada naquilo, não tem nem sequer um indicio de acidente ou falta de perícia. Apesar de caçar e ficar sabendo de conversas durante a minha estadia, lá não teve nada disso.

E você passou por algum momento de dificuldade?

Lá embaixo, senti falta apenas de um banheiro adaptado. Poderiam pensar em ter uma forma de transformar o banheiro acessível por biombo móvel de tecido. Mas as necessidades de cada cadeirante são muito diferentes também.  Eu sou paraplégico, praticante de uma série de esportes, fico mais descolado, tenho exigências menores. Tetraplégicos que tem mais dificuldade, podem ser mais pesados e vão ter outras necessidades diferentes das minhas.

 

O que você diria para outros cadeirantes e/ou pessoas com mobilidade reduzida ou deficiência?

É importante também deixar bem claro que é natureza… pode chover, pode fazer sol, pode fazer frio. Algumas pessoas com deficiência sentem muito calor e passam mal. Outras podem ter hipotermia. Então é bem importante mesmo ter uma conversa individual quando for assinar os papeis. ‘Cara, você leu? Preste atenção! Tem que ter sua própria comida, não tem banheiro lá embaixo’, etc.

O passeio é fantástico. Um amigo meu foi logo depois de mim no Abismo Anhumas. Parece um outro mundo! Fiquei apenas decepcionado com as fotos. “Perdi” minhas fotos da GoPro, pois faltou iluminação.

Qual foi sua impressão sobre Bonito, no geral?

Em Bonito, como cadeirante, é tudo muito fácil, muito legal. Existe um comprometimento, não só com rampa e acesso, mas com banheiros adequados, adaptados. Existe a infraestrutura para isso. A questão de transporte, acredito que tem o que melhorar ainda. No percurso da agência de turismo ao hotel, a van é muito alta. Para alguns passeios com ônibus, eu só subiria se tivesse elevador, então não serve para quem está tentando economizar. Pensando no conforto, sempre tinha um carro para mim e para Patrícia (amiga que o acompanhou na viagem).

 

Receber o Roger, assim como cada um dos turistas que nos visita, foi incrível! Agradecemos muito as suas considerações, vamos aplicar as sugestões que ele comentou na entrevista e continuar dando o nosso melhor, como sempre fizemos.

O que esperamos mesmo é que a experiência e impressões do Roger possam contribuir e incentivar para que mais e mais pessoas cadeirantes, com mobilidade reduzida, idosos e outros, pratiquem o Abismo Anhumas, pois aventurar-se e viver essa experiência incrível é um direito de todos!