O que faz do Abismo Anhumas uma caverna sem igual no Brasil ou no mundo? São tantos fatores que fica difícil pontuar, mas entre eles está: a altura, a beleza exuberante, a grandiosidade, o lago de águas cristalinas. Para falar sobre isso, convidamos a espeleóloga Leda Zogbi, que acaba de publicar um livro com base na segunda expedição realizada pelo ‘Luzes na Escuridão’, projeto que dá nome à obra.
A iniciativa nasceu em 2015 com o objetivo de sensibilizar o público brasileiro e internacional sobre a necessidade de conservar as cavernas brasileiras, que guardam muitas riquezas praticamente desconhecidas pela maioria das pessoas. Idealizadora ao lado de Allan Calux, Leda convidou alguns dos melhores fotógrafos de caverna do Brasil e do mundo para retratar as mais belas do país, entre elas, o Abismo Anhumas.
Confira a entrevista a seguir.
– O que faz do Abismo Anhumas tecnicamente diferente de outras cavernas?
Na verdade, o Abismo Anhumas é uma caverna como todas as outras cavernas. Só que o acesso dele em vez de ser um acesso horizontal como cavernas mais conhecidas, por exemplo, a própria Gruta do Lago Azul (também em Bonito-MS), a caverna do Diabo (no Parque Estadual Caverna do Diabo, município de Eldorado-SP) ou outras cavernas turísticas do Brasil, ela é um acesso vertical. Então, isso dificulta bastante a entrada das pessoas nesse ambiente, que é muito especial.
O grande diferencial do Abismo é que ele tem uma profundidade muito maior do que a entrada da boca dele. A boca é pequenininha e tem uma grande profundidade, o que faz dele um abismo. Mas ele é uma caverna também.
– O que mais chama/chamou atenção de vocês durante os estudos?
O que mais chamou atenção com relação ao nosso trabalho de fotografia foi realmente que o Abismo Anhumas é um lugar espetacular, porque é um ambiente que foi constituído durante milhões de anos. Então, primeiro você tem a sensação da descida, que parece que você está entrando em outro mundo. Você desce para outra dimensão. E depois chega naquele lago azul turquesa, coisa mais maravilhosa do mundo. E quando você coloca uma máscara snorkel e vê aqueles cones lá embaixo, é impressionante. Parece mesmo que você está em outro mundo, em outro planeta. Então, o lugar é espetacular e vale muito a pena a visita.
Os cones foram formados durante milhões de anos, porque a água está sobrecarregada, saturada de calcita. E essa calcita, que é o resultado da dissolução do calcário pela água, ela forma como uma nata em cima desse lago. E quando as gotas das estalactites caem em cima dessa nata, essa nata vai formando “jangadinhas”, que ficam em cima dessa água, e as jangadinhas vão afundando uma em cima da outra, sempre no mesmo lugar, por causa do pingo das estalactites. E é isso que vai formando ao longo de milhares e milhares de anos os cones. E os cones do Abismo Anhumas são dos maiores do mundo. [O maior cone de calcário conhecido do planeta tem 19 metros de altura e está aqui].
Todos os fotógrafos que estiveram lá ficaram muito impressionados com essa formação que realmente é única!
– Por que ele foi escolhido para integrar o volume 2 do livro “Luzes na escuridão”?
Nós escolhemos o Abismo Anhumas para entrar no volume 2 porque é um lugar excepcional e completamente fora do habitual, que a gente queria de qualquer forma retratar e mostrar para o mundo inteiro que a gente tem uma maravilha dessas. Então, realmente o Abismo Anhumas é um lugar único e precisa ser conhecido com todo o cuidado possível.
Com as fotos, um dos principais objetivos do nosso projeto “Luzes na Escuridão” é poder sensibilizar o público quanto a delicadeza e a importância desse patrimônio. Para que eles possam nos ajudar no processo de conservação do patrimônio espeleológico, que é a nossa intenção maior.
Então, o Abismo faz totalmente parte integrante desse projeto.
– Ao seu ver, qual é a importância do ecoturismo para esse tipo de ambiente natural?
O ecoturismo também é importante, porque eu acredito que uma pessoa que entre com todo o cuidado, que desça e que conheça esse ambiente, vai repercutir essa experiência e vai motivar outras pessoas a conhecerem e a conservarem. Então, o ecoturismo faz parte desse projeto. É muito importante e eu acredito que o Abismo Anhumas faz isso com muito profissionalismo, muita seriedade. E eu tenho muita admiração por tudo o que tem sido feito lá para promover o ecoturismo de maneira responsável.
Viu só o que faz do Abismo Anhumas um lugar único no mundo?
Participaram do projeto ‘Luzes na Escuridão, volume 2’ os fotógrafos brasileiros Ataliba Coelho, Daniel Menin, Ricardo Martinelli e Marcelo Krause, e os estrangeiros Csaba Egri (Hungria), Kevin Downey (Estados Unidos), Mirjam Widmer (Suíça), Philippe Crochet (França) e Victor Ferrer (Espanha). Saiba mais pelo site oficial.