“Destinos ou atrativos LGBT+ são os que recebem a todos com equidade e não igual. É ter o mesmo padrão de atendimento, mas sabendo adequá-lo às diferenças e necessidades de cada um”, é o que explica Rafael Leick diretor e criador do Viaja Bi!, blog de turismo LGBT+. Por lá, ele dá dicas de viagem de maneira leve e irreverente, mas conta que para isso precisou juntar coragem por dois anos antes de tirar o projeto do armário, no fim de 2014. “A LGBTfobia ainda era mais declarada”, relembra.
Ele visitou o Abismo Anhumas e topou conversar com a gente, depois, sobre a sua experiência. Confira a seguir:
- O que você considera um destino turístico LGBT? E um atrativo?
Destinos ou atrativos de turismo LGBT+ são os que recebem a todos com equidade e não igual. É ter o mesmo padrão de atendimento, mas sabendo adequá-lo às diferenças e necessidades de cada um. Um destino que faça investimentos de fato se promovendo proativamente para esse público já ganha pontos, mas tem que haver preparação da infraestrutura, especialmente treinamento de pessoal, para que o turista não chegue no local e encontre um ambiente hostil.
Se isso acontecer, qualquer investimento se vira contra o destino. Para isso, toda a cadeia de turismo tem que estar preparada, desde a mensagem publicitária até o guia que vai atender o turista. Piadas LGBTfóbicas não são mais toleráveis e não são somente piadas. Elas podem machucar, então o melhor é não fazer. É tratar as pessoas pelo gênero que elas querem ser tratadas e assim por diante.
- Como foi a sua experiência no Abismo Anhumas, com esse olhar do turismo LGBT+?
Foi uma experiência incrível para conhecer a natureza de perto e por dentro. Eu tive a honra de fazer a descida com o Liel, que trabalhou por muitos anos no Abismo, usando o capacete dele. É impressionante ver as transformações que a natureza pode causar, de temperatura, luminosidade, formações. É um passeio bastante especial e que recomendo com certeza fazer.
Me senti acolhido na minha completude, como pessoa, como turista, como homem, como gay, como apaixonado por natureza, como curioso. Quero voltar ainda! Quem sabe um dia tomo coragem para fazer o mergulho mesmo…
- O que você avalia quando conhece um atrativo?
Avalio tudo! Considero o que todo viajante considera em sua viagem, como interesse, acesso, custo-benefício, atendimento etc., mas além disso, também fico atento para esses detalhes que fazem o turista LGBT+ se sentir seguro e tranquilo. Se tem alguém da equipe que é trans, gay, bi ou lésbica e consigo perceber que a pessoa se expressa livremente, por exemplo, mostra que o atrativo está fazendo a lição de casa e não somente investindo em comunicação vazia. O turista percebe quando é um show montado para ele ou se a coisa é de verdade. Isso avalio também.
- De que maneira podemos nos posicionar para dar mais visibilidade à causa ao longo do ano?
Como mencionei no começo, é um trabalho que tem que ser feito de forma 360º, não só na comunicação. Então, é importante capacitar a equipe nessa questão LGBT+, onde entram questões de pronomes, de tratamento, entre outras coisas. No Viaja Bi! tem bastante conteúdo sobre viagem onde avalio destinos e atrativos, dá para ter uma ideia.
Outras atitudes importantes incluem dar oportunidades para pessoas LGBT+ da região fazerem parte do time e mostrar que são bem-vindas, que não haverá hostilidade nem por parte da empresa nem dos colegas, se posicionar quando um visitante tiver atitudes preconceituosas. Chegando nesse ponto, o posicionamento vem quase que forma natural para o público. E quando se posiciona assim, tem que bancar mesmo. Como qualquer posicionamento que tomamos na vida, é uma escolha. Sempre vai ter gente contra, é importante pensar como se posicionar sobre a questão para essas pessoas, porque é aí que vemos se o lugar realmente acolhe a diversidade.
- Depois de viajar a um destino, você acompanha esse olhar para a inclusão?
Eu procuro ter esse olhar para todos os destinos para os quais quero viajar, para os que já viajei e para os que não quero viajar. A diversidade e a inclusão devem ser parte da existência de qualquer destino porque ela é parte da existência humana, mesmo que alguns humanos não queiram aceitar isso.
Não apostar na diversidade é, além de preconceituoso, prejudicial em termos econômicos já que o público LGBT+ costuma representar 15% do faturamento turístico do mundo, mesmo que represente somente 10% dos viajantes, ou seja, gastam mais. Então, procuro olhar com carinho para os destinos que visitei para entender quais movimentos estão sendo feitos para abraçar cada vez mais a diversidade como um todo, se não usam mensagens erradas e/ou preconceituosas, até porque os conteúdos que produzo estão na internet para sempre, com indicação para meu público. Meu nome fica para sempre associado, então, preciso estar atento para ver se ainda estão andando na linha.
Para finalizar, Rafael conta que o blog surgiu da vontade de que o turismo LGBT+ tivesse dicas de viagem específicas em fontes seguras. Hoje são muitas as pessoas que falam de turismo LGBTQIA+, mas ele foi um dos pioneiros no país. E que bom que deu certo!
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