“Com relação ao Abismo Anhumas é uma paixão própria. Sou suspeito pra falar, porque eu fui um dos primeiros a ter a oportunidade de descer nesse abismo junto com outros colegas numa expedição pra desenvolver o projeto Grutas que eu coordenei em 1984 (…). Voltei à caverna e tive a mesma emoção que eu tive nas primeiras entradas, a 35 anos atrás, com a novidade de que agora tem uma infraestrutura fantástica (…). Tudo isso foi administrado – do ponto de vista de visitação pública – como um exemplo de mudanças, que foram muitas, mas não na natureza e sim na acessibilidade”, conta Clayton Lino, o primeiro homem a descer o Abismo Anhumas.
Inclusive dois de seus filhos, Fabrício e Isaias, também trabalharam no atrativo e, segundo ele, aprenderam muito com a experiência. Clayton voltou ao Abismo Anhumas na última semana por conta do 35º Congresso Brasileiro de Espeleologia (35º CBE) que aconteceu entre os dias 19 e 22 de junho de 2019. Recebemos aqui importantes estudiosos da área: biólogos, historiadores, gestores ambientais, turismólogos professores e outros muitos profissionais.
Um marco para a espeleologia
Foi a primeira vez que Bonito, a capital do ecoturismo brasileiro, recebeu o evento que apresenta avanços em pesquisas, explorações, gestão e ações de conservação relacionadas ao rico patrimônio espeleológico do país. O tema “Carste, cavernas e água para os próximos 50 anos”, norteou o Congresso que reuniu grandes palestras, mesas redondas, apresentação de trabalhos, encontros técnicos, minicursos e saídas de campo – incluindo o Abismo Anhumas.
Recebemos além do espeleólogo e amigo Clayton, Lívia Medeiros Cordeiro, Presidente da Comissão Organizadora do 35° Congresso Brasileiro de Espeleologia; José Ayrton Labegalini, presidente da Sociedade Brasileira de Espeleologia (SBE); Tetê Maria Aragão, professora espelóloga; Enrico Bernard, biólogo especialista em morcegos; Renata de Andrade, bióloga do Terra à Dentro; Luís Beethoven Pilo, geógrafo pioneiro na área de espeleologia; os fotógrafos renomados do Luzes na Escuridão.
E por que isso é tão importante também para o turista?
“A informação que os guias de turismo passam a ter para divulgar as cavidades para os turistas é completamente diferente. Não é só ‘olha que lindo’. Eles têm condições de dar mais informações sobre como são as formações e como foi se formou da serra da Bodoquena e seu carste (tipo de relevo geológico caracterizado pela dissolução química, corrosão, das rochas”, pondera Almira Soares, sócia-proprietária do Abismo Anhumas.
Para Mariana Timo, mestre em Geografia e Coordenadora da Escola Brasileira de Espeleologia, o atrativo é “um exemplo espetacular de uma versão de elementos representativos para o patrimônio espeleológico. Isso é muito importante para a preservação e conhecimento desse local para os congressistas, porque são profissionais da área e que podem se interessar em realizar pesquisas cientificas que vão contribuir não só para a conservação como também para o entendimento desse ecossistema tão frágil que é a caverna”.
Capacitação constante
Além disso, a oportunidade de troca de conhecimento e parcerias é muito grande nesse tipo de evento. Alguns profissionais congressistas, por exemplo, professores e pesquisadores, estenderam os dias de estadia para fornecer aos nossos monitores o curso de capacitação de Espeleologia nível 1. Foi bem intenso, ao longo de três dias, e nossa equipe pode conhecer a aprender ainda mais sobre tipos de cavernas diferentes do Abismo, com dutos mais estreitos e outras especificações.
Como Almira falou, esse tipo de estudo e informação faz com que o turista também aprenda enquanto viaja, o que é um dos principais fundamentos do turismo de natureza, responsável, sustentável e de aventura. Esse segmento, da vida ao ar livre, respeita o meio ambiente, a tudo e a todos, e é nisso que a gente acredita!